Contaram-me 40 - Religiosamente Viciado

Contaram-me 40

Noutro dia, visitei o Manuel, foi uma viagem de algumas horas para vê-lo, mas tranquila, bonita e válida, pois ele sempre tem muitas histórias para contar, é portador de uma imaginação muito fértil e as idéias extravazam de sua mente tão vorazes como a água que jorra de uma vertente.

Passamos um dia muito agradável e rico. Contou-me sobre sua vida, experiências, novos projetos e, entre tantas coisas, contou-me sobre um grande amigo que ele possui.

Disse-me que seu amigo era um paradoxo ambulante, cuja ambígua caminhada tinha lhe custado caro. Seu amigo era um fervente praticante de certa religião, mas, ao mesmo tempo, era tão veemente consumidor de cocaína.

Então, durante o dia praticava sua fé e, durante as noites, saciava sua dependência. No entanto, depois de certo tempo, começou a compartilhar suas dores, vícios e problemas com os irmãos religiosos e, à noite, ligado pelas anfetaminas, profetizava sua fé, crença e doutrinas com seus "inspiradores" amigos.

Passado um tempo nesta dissociação de papéis e propagação de assuntos em inapropriados momentos, seus irmãos religiosos cansaram-se de suas lamúrias, enquanto que seus comparsas de vícios se enfastiaram de sua entusiástica evangelização.

Então, numa derradeira apocalipse, sua vida que não foi nem totalmente fé, nem amplamente vício, nem sublime inspiração, nem unilateral piração, acabou encontrando estância num hospício onde, dissociadamente enlouquecido, acabou associando-se com o seu novo desassociado ambiente. 

(Tadany – 18 12 10)

PS: Para citar este texto:

Cargnin dos Santos, Tadany. Contaram-me 40. www.tadany.org^®