Joana, a puritana
Joana era uma puritana por estrutura social, abnegada por firmeza materna, obediente por doçura paterna e introvertida por desinteresse social. Cresceu gentil e submissa, escondida num apático invólucro que a preparava para seguir a trilha caminhada por sua matriarca. Crescer, educar-se, refinar-se, casar-se e ser a brilhante sombra do todo poderoso senhor que desvirginasse. Brilhante se tivesse sorte de encontrar um esposo condescendente, senão seria apenas um resignado corpo opaco cumpridor de afazeres e prazeres requisitados pelo seu inquestionável e imperioso amo.
Em seu processo educacional tudo eram elogios e belezas, seu comportamento era exemplar e admirável, suas ponderações e questionamentos sempre aceitáveis, suas ideologias sempre perpetuadoras do status quo e seus desejos recheados de tradições e repetições. Ela era a pérola de sua sociedade, a bonequinha dourada que, cada vez mais, aumentava sua cotação frente aos potenciais pretendentes.
Mas Joana também possuía uma rebeldia interna, do âmago de sua natureza brotavam dezenas de curiosas, interessantes e miraculosas fantasias. No sótão de sua imaginação, ela vivia um mundo a parte onde recriava o seu comportamento, amoldava o ambiente para que se adaptasse aos seus mais intensos ímpetos humanos e deixavasse levar pela magia do que a inspirava diariamente.
Apesar desta aparente distinção, seu papel externo não era um fardo, pois ela entendia a necessidade do mesmo para viver livre em seu próprio mundo.
Então, no momento em que o último toque de preparação feminina e refinamento social estava para ser dado, a família decidiu enviá-la para o além mar, pois o que existe lá sempre é melhor do que o que existe aqui e, se lá for, seu valor aqui será maior. Lógica simples para os anestesiados cérebros colonizados.
Recatada, frágil e curiosa, ela partiu.
Na nova terra a estrutura era similar, mas o olhos que a observavam não eram tão julgadores e opressores quanto aos que ela estava acostumada. Assim, com o passar do tempo, suas ações premeditadas, frases memorizadas e sorrisos ensaiados tornaram-se naturalmente desnecessários com a mesma intensidade em que suas guardadas ebulitivas fantasias foram criando energias e forças.
Certa feita, a fera adormecida, num impulso súbito e avassalador, quebrou as grades que a limitavam e perambulou livre e intensa pela senda de suas ilusões.
Assim, navegou pelos saborosos, afrodisíacos e prazerosos mares do amor com a mesma lucidez, coragem e impetuosidade que um navegador busca uma terra desconhecida, incerto de sua consecução, mas confiante em sua jornada. Inventou pecados para saciar suas sedes, descobriu o potencial de sua feminina essência, assim como a enrustida fragilidade e dependência masculina. Criou o antídoto para o veneno da submissão. Reformou seus valores com as gloriosas amálgamas da liberdade e transformou sua beleza e sensualidade em certeiras e letais armas.
Quando regressou ao lar, ela não era mais a mesma, muito embora a inocente ignorância familiar e social, assim a esperavam. Antes ela os escutuva, agora ela os manipulava. Antes obedecia, agora os seduzia. Outrora era um valioso produto num líquido mercado, agora era a variável que influenciava e dominava o mercado.
Seus trejeitos eram a jóia das mulheres, sua sensualidade era o desejo dos homens e seu esplendor era o orgulho da família.
Com o passar dos anos, escutou, sorriu, sugeriu e influenciou homens, mulheres, jovens e crianças. Embalada pelo pináculo das fantasias vividas na infância, a Joana mulher, reformou sua sociedade, reestruturou os papéis sexuais e revitalizou a inexorável força feminina. Foi mulher, amiga, amante, companheira, líder, revolucionária e musa. Durante toda a sua existência, seus amantes à amavam, idolatravam e respeitavam tanto quanto o seu marido. (Tadany – 14 01 12)
PS: Para citar este texto:
Cargnin dos Santos, Tadany. Contaram-me 49. www.tadany.org®
Joana era uma puritana por estrutura social, abnegada por firmeza materna, obediente por doçura paterna e introvertida por desinteresse social. Cresceu gentil e submissa, escondida num apático invólucro que a preparava para seguir a trilha caminhada por sua matriarca. Crescer, educar-se, refinar-se, casar-se e ser a brilhante sombra do todo poderoso senhor que desvirginasse. Brilhante se tivesse sorte de encontrar um esposo condescendente, senão seria apenas um resignado corpo opaco cumpridor de afazeres e prazeres requisitados pelo seu inquestionável e imperioso amo.
Em seu processo educacional tudo eram elogios e belezas, seu comportamento era exemplar e admirável, suas ponderações e questionamentos sempre aceitáveis, suas ideologias sempre perpetuadoras do status quo e seus desejos recheados de tradições e repetições. Ela era a pérola de sua sociedade, a bonequinha dourada que, cada vez mais, aumentava sua cotação frente aos potenciais pretendentes.
Mas Joana também possuía uma rebeldia interna, do âmago de sua natureza brotavam dezenas de curiosas, interessantes e miraculosas fantasias. No sótão de sua imaginação, ela vivia um mundo a parte onde recriava o seu comportamento, amoldava o ambiente para que se adaptasse aos seus mais intensos ímpetos humanos e deixavasse levar pela magia do que a inspirava diariamente.
Apesar desta aparente distinção, seu papel externo não era um fardo, pois ela entendia a necessidade do mesmo para viver livre em seu próprio mundo.
Então, no momento em que o último toque de preparação feminina e refinamento social estava para ser dado, a família decidiu enviá-la para o além mar, pois o que existe lá sempre é melhor do que o que existe aqui e, se lá for, seu valor aqui será maior. Lógica simples para os anestesiados cérebros colonizados.
Recatada, frágil e curiosa, ela partiu.
Na nova terra a estrutura era similar, mas o olhos que a observavam não eram tão julgadores e opressores quanto aos que ela estava acostumada. Assim, com o passar do tempo, suas ações premeditadas, frases memorizadas e sorrisos ensaiados tornaram-se naturalmente desnecessários com a mesma intensidade em que suas guardadas ebulitivas fantasias foram criando energias e forças.
Certa feita, a fera adormecida, num impulso súbito e avassalador, quebrou as grades que a limitavam e perambulou livre e intensa pela senda de suas ilusões.
Assim, navegou pelos saborosos, afrodisíacos e prazerosos mares do amor com a mesma lucidez, coragem e impetuosidade que um navegador busca uma terra desconhecida, incerto de sua consecução, mas confiante em sua jornada. Inventou pecados para saciar suas sedes, descobriu o potencial de sua feminina essência, assim como a enrustida fragilidade e dependência masculina. Criou o antídoto para o veneno da submissão. Reformou seus valores com as gloriosas amálgamas da liberdade e transformou sua beleza e sensualidade em certeiras e letais armas.
Quando regressou ao lar, ela não era mais a mesma, muito embora a inocente ignorância familiar e social, assim a esperavam. Antes ela os escutuva, agora ela os manipulava. Antes obedecia, agora os seduzia. Outrora era um valioso produto num líquido mercado, agora era a variável que influenciava e dominava o mercado.
Seus trejeitos eram a jóia das mulheres, sua sensualidade era o desejo dos homens e seu esplendor era o orgulho da família.
Com o passar dos anos, escutou, sorriu, sugeriu e influenciou homens, mulheres, jovens e crianças. Embalada pelo pináculo das fantasias vividas na infância, a Joana mulher, reformou sua sociedade, reestruturou os papéis sexuais e revitalizou a inexorável força feminina. Foi mulher, amiga, amante, companheira, líder, revolucionária e musa. Durante toda a sua existência, seus amantes à amavam, idolatravam e respeitavam tanto quanto o seu marido. (Tadany – 14 01 12)
PS: Para citar este texto:
Cargnin dos Santos, Tadany. Contaram-me 49. www.tadany.org®
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