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{Amb. Liter.:521} CISMAS DO PARAÍSO - Poesia - De Raul Longo - Imputa-se à donzela....Um brinco, um mimo...Penalizado, dele Deus deu-lhe a fêmea.... - Adão - Eva - A primeira núpcia



 
 
 
Cismas do Paraíso
 
(Raul Longo)
 
Imputa-se à donzela
a autoria da tentação,
mas o que ainda hoje
                se testemunha,
é outra versão:
sendo o macho
quem, à fêmea, faz sedução.
 
Um brinco, um mimo,
      ofertas, promessas e compensações:
nunca foi ofício de moças
         já de por si dotadas de outras qualificações.
 
Que se saiba,
isso de flores, doces ou romã;
sempre precedeu másculas intenções.
 
Mais se afia a dúvida
quando se considera que em sua feitura,
já superara o Criador da encomenda o afã,
permitindo-Se, então, ao capricho
e maior zelo na delicada postura.
Também se deduz
ser-lhe de maior juventude,
já que só veio à luz
por própria solicitação, em sua plenitude.
(quiçá, em fase 'inda mais provecta,
pois conta-se de certa ave xereta
circundando os paradisíacos céus,
grasnando insistente: "Eva e Adão! Eva e Adão!"
Sumindo-se, deixava incomodando
um eco permanente: "éviadão... éviadão...")
 
Penalizado, dele Deus deu-lhe a fêmea:
sendo ela, dizem, o primeiro gênero definido
(e o último de Si nascido).
 
Finda a onanista androginia,
teve então uma companheira para o dia a dia...
Mas de que serventia
tanta beleza, nudez e ousadia?
 
Seria Adão um parvo absoluto?
Um animal sem qualquer imaginação
para estar ali, nu em meio ao mato,
apenas admirando Eva em completa solidão,
sem que, do fato,
lhe ocorresse a menor sugestão?
 
Resgatando as machas origens
do passivo papel que lhe dão na história,
buscamos em anais de mais remoto registro,
e salvamos do primeiro sedutor a memória,
revelando o discurso entreouvido
                            em paradisíaco matagal,
nas vésperas do dia sinistro
da tal descoberta do bem e do mal...
(que, por sinal, em bem entender 
         foi a primeira humana vitória
e de toda a espécie, sem dúvida,
 a maior glória.
      Pois se entre Adão e Eva
não se desse o enlace,
o que hoje há, nunca existiria...
- nem nada além do eterno e infernal
         paraíso em que tudo, ainda, se manteria -):
 
Pois que Eva, alheia,
suspira mirando horizontes de mesmice...
 
E Adão, em sibilino
argumento imiscuísse:
                   " - Pois se
                            é
                  no bagaço
                  que está o traço
                  saudável da fruta,
              - meu bem –
         porque não experimentar
         o doce macio
         que a fruta madura tem?"
 
(Eva não evita uma interjeição qualquer,
                                         circundante)
 
 
Mas Adão,
sinuoso: "- Nada daquele ácido
                    sabor urgente
                   que queima
                   a língua da gente,
                  fazendo arder
                   delicadas papilas
                  e até eriçando mamilos.
                  Mas num frio corte
                  rápido e afoito
                   como a morte.
 
(Eva talvez intrigada,
         talvez nada,
         volta-se e entre ele vê:
         a serpente)
 
 
Adão, ereto
e submisso,
sugere subreptícias: - Melhor um saborear
                               lento...
                               Escorrer de lambida
                               de quem sabe experimentar:
                               bocado a bocado.
 
(Eva um pouco em dúvida,
              porém de lábios decididos)
 
 
Adão incontido,
uiva e rasteja: "- Beijo de vida íntima
                        e intensa,
                        como beberica
                        o pássaro que,
                            gota
                            a gota,
                        bebe o mel da flor...
 
Eva, de pudicícia vencida,
enfim desabrocha!
E Adão, em prazer,
suspira: "- Antes que o fruto madure,
                                despenque,        
                                apodreça...
                   ...E fique para semente.'
        
                  
Assim,
eras  antes de Newton,
entre fôlegos e gemidos
se confirmou a gravidade da maçã.
E nestes gozosos inícios,
se fez a história
do original pecado,
interpondo-se a razão
entre as naturais atrações
das massas de Eva e
as inversas proporções
de seu companheiro,
aquele primeiro: Adão.
 
 
 
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